Em Outubro 2017, começou uma guerra no norte de Moçambique na província de Cabo Delgado perto de depósitos de gás natural. Os distritos, onde esta guerra surgiu, ficam num lugar que ainda não foi evangelizado pelas Igrejas de Cristo e, que de facto, é uma área menos influenciada pelo cristianismo. Como os ataques estão a acontecer no norte, perto de fronteira de Tanzânia, a maioria das pessoas estão a fugir para o sul. Alguns têm fugido para fora da província, enquanto a maior parte tem fugido para o sul da mesma. Atualmente, o número dos deslocados ultrapassa as 700,000 pessoas.
A partir do ano passado, não é uma novidade ver barcos cheios de deslocados a chegar às praias da cidade litoral de Pemba ou camiões cheios de deslocados a entrar na cidade de Montepuez no interior. Muitos dos que têm meios fogem de vez da província chegando em Nampula, Zambézia, ou outros lugares no centro do país. Muitos têm fugido a pé depois dos insurgentes terem atacado a suas aldeias. Somente com a roupa que eles usam, refugiam-se no mato e depois caminham a pé até lugares mais seguros. Muitos deixaram para trás famílias que não conseguiram fugir ou foram capturadas ou mortas. Outros ficaram separados das suas próprias famílias. Muitos têm fugido durante o tempo chuvoso, abandonando as suas machambas, chegando a novas áreas onde já existe fome devido ao fraco acolhimento do ano passado.
Várias igrejas na região têm ajudado e apoiado estes deslocados. Às vezes são ajudas simples, oferecendo: milho, aboboras, feijão, esteiras, panelas, pratos, roupas, sal, sabão, ou alojamento. Devido a limitações financeiras, não é possível ajudar em tudo, mas as igrejas fazem o possível. Por exemplo, quando uma criança dum deslocado estava doente, a igreja em Menheuene fez uma contribuição de 50 meticais para ir ao hospital. Na mesma congregação, o diácono André Álvaro relatou a chegada de uma família esfomeada e sem posses algumas. Ele ofereceu 10 kg de milho e disse: “A tristeza não acaba, mas depois de ajudar, a situação torna-se um pouco melhor.”
A igreja de André está a fazer um plano para visitar famílias de deslocados. Ele mencionou que tem aprendido a realizar estas visitas. “Quando chegamos às casas deles, não reclamamos porque eles não nos dão cadeiras para sentar, mas sentamo-nos com eles no chão.” Pois eles não têm cadeiras para oferecer! As igrejas moçambicanas usaram os seus recursos locais e só depois de arrancarem com o ministério, é que receberam ajudas do exterior. Algumas igrejas nos Estados Unidos têm mandado fundos para ajudar este ministério com os deslocados. O trabalho dos missionários neste ministério tem sempre acompanhado a igreja local. Os crentes locais são os que conhecem bem os mais necessitados. Ajudas são dadas às igrejas para distribuir apoio aos seus vizinhos, de forma a entenderem que as ofertas são, de facto, da igreja.
As ajudas que foram dadas eram essencialmente, comida, uniformes de escola, roupas, panelas, esteiras, e necessidades básicas. Outras ajudas dirigem-se ao auxílio e ao ensino das famílias no que toca ao desenvolvimento do próprio sustento, de modo que não fiquem dependentes de ajudas externas. Alguns têm recebido enxadas, catanas, e bicicletas. Outros que eram carpinteiros têm recebido serrotes, martelos e formões. A outros foram dados ingredientes para cozinhar comida para vender na rua. Outros estão agora a vender peixe ou roupas através das ajudas recebidas.
Existem muitas necessidades que os deslocados têm para além das físicas. São dificuldades espirituais e emocionais devido aos sofrimentos que eles têm acompanhado. Em Dezembro, os missionários, que trabalham em Montepuez, organizaram um seminário sobre o ministério com pessoas que têm sofrido traumas. Alguns irmãos da Igreja de Cristo participaram e aprenderam como trabalhar com pessoas traumatizadas. Gonçalves Inácio relata a história de um homem deslocado que conheceu e como “a filha e o genro dele foram decapitados na presença dele, sendo ele proibido de chorar.” São muitas as historias assim. Mas Gonçalves notou que, na sua igreja, “Deus coloca no coração dos membros e líderes o espírito para servir, amar, e encorajar. Assim eles convertem muitos a Jesus.”
É bom entender esta crise como uma oportunidade que temos. O Irmão Gonçalves disse, “Temos que ver esta situação como uma obra que Deus nos deu, para que através da nossa maneira de servir, seja dada glória e honra a Deus.”
Embora muitos ainda não tenham entrado na igreja, em outras congregações já houve muitas pessoas que se converteram e entregaram as suas vidas a Cristo. Isto tem acontecido nas igrejas de Balama, Namuno, e Montepuez. O diácono Luís Pedro contou a história de uma família de cinco pessoas que começou orar com eles na Igreja de Cristo no bairro de Mirige, em Montepuez.
Os deslocados são de culturas e línguas diferentes; alguns falam a língua macua, maconde, muani, ou macue. Os mais educados falam português contudo muitos não entendem. Outros falam suaíli devido à proximidade com a Tanzânia. Napoleão David, evangelista na vila de Namuno, tem recebido alguns na sua igreja que falam a língua maconde. Ele diz: “Antigamente usávamos uma única língua nos cultos (que era a língua macua), mas agora usamos português”. No distrito de Balama, a evangelista Gonçalves Inácio está a discipular um novo crente maconde. A esperança dele é que Deus vá usar este homem para alcançar o seu povo para Cristo. A maioria das Igrejas de Cristo no norte de Moçambique fala macua ou lomue (línguas bem semelhantes).
A diferença da língua é um grande desafio para o ministério entre os deslocados. Também existem diferenças culturais. Os macondes geralmente são católicos e mostram interesse na igreja. Os muanis e macues são muçulmanos e têm sido muito resistentes ao cristianismo.
As igrejas estão a aprender muito no processo deste ministério. O Irmão Napoleão David diz que “Não havia muita vontade para ajudar, mas agora estamos a ver a igreja a ser generosa. Ser generoso é bem importante. Olho para eles e penso: ‘E se fosse eu?’ Qualquer coisa que eu tenho merece ser compartilhada.” Em Montepuez, o irmão Luís notou o mesmo, “A igreja aprendeu a amar as pessoas que sofrem e a ajudar todas as pessoas desconhecidas.”
Olho para eles e penso: "E se fosse eu?"
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As Igrejas de Cristo estão presentes no norte de Moçambique desde 1968. Surgiram através do irmão Dias Bento Feliciano que fora convertido enquanto vivia em Malaui. A igreja começou a desenvolver mesmo durante a guerra civil e hoje é tão numerosa no norte do país, especialmente na província de Zambézia.
Em 1994 começou a primeira igreja em Cabo Delgado, na aldeia de Mucolo, no distrito de Namuno no sul de província. Nos últimos anos, a Igreja de Cristo tem espalhado no sul de Cabo Delgado e hoje existe em 7 distritos e é composto por cerca de 70 congregações. A maior parte dos crentes falam a língua macua que é a mais usada no sul de Cabo Delgado.
Uma família missionária que está a trabalhar na Tanzânia tem planos de se mudarem para Moçambique no final deste ano. Aarão e Marisa Bailey têm trabalhado durante quinze anos na Tanzânia e falam a língua suaíli. Eles vão trabalhar com Uma equipa missionária da Igreja de Cristo que tem trabalhado com a igreja local desde 2004. Isto será muito útil para o trabalho com os deslocados. Um grande desafio que a igreja tem é que muitos dos deslocados não falam macua nem português. Muitos entendem suaíli mesmo sendo macondes, muanis, ou macues.