Algumas congregações têm estado online desde Março de 2020. Outras reúnem-se com números limitados e máscaras. Algumas estão de novo reunidas sem restrições. Independentemente disso, os cristãos dizem que o COVID-19 os desafiou a repensar sobre o que significa ser igreja.
No Canadá, onde uma nova onda de COVID-19 está a pressionar a capacidade hospitalar, os cristãos ainda encontram-se para o culto online — como têm feito desde Março.
Na Nova Zelândia, onde medidas rigorosas de quarentena reduziram drasticamente o número de casos, os membros da igreja estão novamente a reunir-se presencialmente — e até mesmo a abraçar-se.
Independentemente do seu estado, os cristãos em todo o mundo dizem que o microscópico vírus tem causado mudanças notórias na forma como convivem, como ministram e como veem o mundo.
“Rico ou pobre, cada pessoa, família, comunidade e nação estava num impasse”, disse Gigie Carranza, que congrega numa pequena Igreja de Cristo a sul da capital das Filipinas, Manila.
O seu maior takeaway de 2020: “Não importa quão grandes sejam os meus planos — para mim ou para o meu ministério — depende sempre do Senhor”.
Na província canadiana da Colúmbia Britânica, Lauren Noel filma um sermão de Travis Hutchinson para a Igreja de Cristo de Shelbourne Street em Victoria.
Os membros das Igrejas de Cristo em todo o mundo foram questionados sobre o impacto do COVID-19 nos seus cultos e vidas espirituais. Eles partilharam histórias de lockdowns e de perdas, mas também de inovação e bênçãos inesperadas no meio das provações de 2020.
FILIPINAS: Servindo vítimas de tufão no meio de um isolamento
Um dia antes do Metro de Manila ter anunciado um confinamento rigoroso, Carranza preparava-se para viajar para a Finlândia com o objetivo de visitar o seu irmão. Acabou por não acontecer.
Meses depois, após um tufão enorme ter atingido as Filipinas, Carranza e os seus colaboradores com a missão de socorro de Marcha por Cristo, tiveram de reinventar o seu método para ajudar as vítimas da tempestade. Em vez de enviarmos uma equipa para inspecionar os danos, “tivemos de depender da família da igreja mais próxima da área para fazer isso por nós”, disse ela.
Enquanto adoram online, os membros da Igreja de Cristo de Twinville em Manila também estão a fazer o que podem para servir as vítimas através do Ministério Metro Manila, disse Danni de Vera, o coordenador do ministério e ministro da igreja.
“Os irmãos tornaram-se mais atentos à palavra de Deus e mais dedicados à oração”, disse Danni de Vera. “O Coronavírus não nos impedirá de servir o Senhor”.
EUROPA OCIDENTAL: Pandemia renova a fé dos crentes em Deus, não nos seus seguidores
Em França, onde os lockdowns foram iniciados na Primavera, atenuados no Verão e restabelecidos à medida que os casos aumentavam no outono, a pandemia “tem sido um lembrete da importância da fé e da confiança em Deus”, disse o ministro Robert Limb.
Mas “a minha fé nas pessoas, incluindo nos cristãos, tem sido grandemente desafiada”, disse Limb, que prega na Igreja de Cristo Moulin-Vert, em Paris. Embora a sua congregação “tenha sido unânime” em relação ao uso de máscaras e distanciamento social, Limb expressou descrença, até mesmo repugnância, para com aqueles que afirmaram que o uso de máscaras mostra uma “falta de fé ou que tudo isto é uma farsa”.
Na Holanda, “temos lutado para estar unidos… para manter as pessoas seguras versus restrições indesejadas”, disse Lucinda Vrieze, um membro da Igreja de Cristo em Eindhoven. Para a adoração “temos cerca de 15 pessoas no edifício e talvez 5 a 10 online. Isto tem dividido a igreja.
“A minha fé em Deus é mais forte”, disse Vrieze. “Tenho esperança que Deus esteja a trabalhar nestes tempos difíceis para fortalecer a nossa família cristã.
A alteração dos regulamentos e a incerteza tornaram difícil planear as atividades da igreja, disse Scott Raab, evangelista da Igreja de Cristo de Maastricht na Holanda. No entanto, como as igrejas mudaram as suas atividades para via online, várias reconetaram-se com membros antigos que se haviam mudado — alguns para locais tão longínquos como o Irão.
“A realidade que se tornou aparente, de como a igreja está a nível mundial… tem sido muito encorajadora”, disse Raab.
No entanto ele anseia que novamente os crentes possam reunir-se — e cantar — em grandes grupos. Depois da pandemia, “aproveitem todas as oportunidades para estarem juntos”, disse ele. “Não tomem nada do Senhor como garantido”.
EUROPA CENTRAL: Uma mistura de modelos
Em Belgrado, Sérvia, a Igreja de Cristo Karaburma respondeu ao confinamento do seu país distribuindo 14.500 cartões, através do correio, e oferecendo Bíblia e livros produzidos pela Missão da Europa Oriental.
“Isso dá-nos um ambiente seguro, uma vez que temos de nos distanciar socialmente”, disse o pregador Drasko Djenovic. A igreja também fez publicidade no Facebook e enviou mais de 50 Bíblias pelo correio. Pelo menos dois dos destinatários visitaram a congregação desde que as reuniões presenciais foram retomadas no outono. Mas alguns membros da igreja não regressaram ao culto.
Em Bucareste, na Roménia, a Igreja de Cristo usa um modelo híbrido — presencialmente e via online — disse a membro da igreja Lavinia Cook. Ela disse, descrevendo a sua própria viagem de fé durante 2020: “Parecia que eu estava mais sob o ataque de Satanás. Sinto-me como se tivesse que confiar mais em Deus”. Eu oro pelo final desta pandemia, mas também oro para que nos lembremos das lições que aprendemos”.
Os panfletos publicitários da Missão da Europa de Leste são preparados para o correio na Sérvia.
ÁFRICA: Vidas, empregos e escolas de formação ministerial em risco
As nações de África não relataram os números de casos, como os outros continentes, embora os membros da igreja de lá tenham relatado o aumento de hospitalizações e mortes.
No país com mais casos, a África do Sul, Keith Johnson disse: “perdi cinco pessoas que conheço com COVID, uma delas um primo… Está a chegar a um ponto que eu nem quero ver as minhas mensagens”.
Johnson, um nativo da província do Cabo Oriental da África do Sul, vive no Arkansas e serve como coordenador regional de África para o Instituto Bíblico Mundial. Ele descreveu os cristãos de lá como “devastados e desanimados”. Através do Zoom, Johnson coordenou recentemente uma série de aulas bíblicas com oradores de todo o mundo.
No Quénia, o ministro Charles Ngoje disse que está a lutar contra o vírus e que as “orações dos crentes são fantásticas”. Os Lockdowns têm tirado o sustento de muitos membros da igreja, e as escolas de formação ministerial estão a lutar para sobreviver, disse Ngoje.
No Uganda, alguns lockdowns foram levantados, e as igrejas são capazes de encontrar-se para o culto presencial, embora com máscaras, distanciamento social e pouca interação, disse Bosco Mukholi, evangelista da Igreja de Cristo de Lwanda.
“Nós acreditamos que Deus vai curar esta terra”, disse ele, referindo-se às palavras de 2 Crónicas 7:14. “Oramos para que Deus traga uma solução para o COVID, pois muitas pessoas estão a perder as suas vidas”.
ÍNDIA: presencialmente, com precauções
Atrás dos EUA, a Índia tinha o segundo maior número de casos do mundo, na altura da imprensa, de acordo com dados da Universidade Johns Hopkins. Muitas congregações continuam a encontrar-se presencialmente, mas com precauções, incluindo a Igreja de Cristo Ganti no estado de Andhra Pradesh, no centro da Índia.
O Ministro Joseph Gootam disse que ora pela cura — e que as igrejas que possam estar “atentas e fortaleçam o que permanece .”
AMÉRICA LATINA: Lockdowns levam a uma maior sensação de conexão
No Panamá, onde medidas rigorosas têm limitado as reuniões presenciais, a Igreja de Cristo de El Valle não se reúne presencialmente desde Março, disse a missionária Lisa Carter. A igreja realiza cultos dominicais, aulas bíblicas e até mesmo momentos de louvor via Zoom, disse Carter.
Na Costa Rica, a Igreja de Cristo de Heredia regressou recentemente às reuniões presenciais. Cerca de 50 pessoas reúnem-se aos domingos, disse o ministro Carlos Ulate. Mais de 100 juntam-se através das redes sociais — excedendo a média do número de adoradores antes da pandemia.
Nos primeiros dias da pandemia, 10 líderes da igreja comprometeram-se a contactar regularmente 14 membros de cada igreja por telefone. O objetivo, disse Ulate, era avaliar as necessidades dos membros em termos de trabalho benevolente.
“No entanto, também deu a oportunidade de os conhecer melhor”, disse o ministro, “pois telefonar a alguns deles acabou em conversas nas quais algumas necessidades emocionais foram satisfeitas”.
Antes da pandemia, alguns membros estavam meramente a assistir aos cultos de domingo e a viver, durante a semana, como o mundo e “não estavam realmente a seguir Jesus”, disse Ulate. Durante o confinamento, ele orientou estudos bíblicos individuais com vários membros. Pelo menos um “voltou e pediu-me que o ajudasse a encontrar verdadeiramente o Senhor”.
PACÍFICO SUL: Restrições mais atenuadas à medida que as ilhas reportam uma redução de casos ou nulos
Depois de suportarem um confinamento rigoroso de meses, os cristãos na Nova Zelândia estão de volta aos cultos presenciais, disse Johnathon Atchley, diácono da Igreja de Cristo de Otumoetai em Tauranga. Até mesmo os abraços são permitidos.
Uma reunião Zoom do Colégio Bíblico do Pacífico Sul, na Nova Zelândia.
Durante o confinamento, a igreja gravou os seus cultos e teve espetadores de países incluindo Austrália, Fiji, Estados Unidos e Chile.
Atchley, que ensina no South Pacific Bible College, disse que se lembra de discussões que aconteceram antes da pandemia “sobre se era possível participar num culto de adoração se você fosse ‘somente’ online”, disse ele. “Bem, parece que a pergunta foi respondida”.
Mais a norte, no Pacífico Sul, o vírus ainda não chegou às pequenas ilhas da Samoa Americana, um território dos EUA. As igrejas fecharam por precaução mas reabriram em Maio, disse David Willis, ministro da Igreja de Cristo de Lupelele.
“A pandemia fortaleceu a determinação da maioria dos membros em viver fielmente no dia-a-dia”, disse Willis. “Na verdade acrescentámos três novas famílias aos nossos membros e um estudo bíblico para homens devido ao facto de as pessoas perceberem que Deus deveria estar mais na vanguarda das nossas vidas.
“As pessoas estão a observar como é que os cristãos respondem a uma crise”.
CANADÁ: Os vídeos aumentam a participação
Como as províncias do Canadá reportam picos nos casos do COVID-19, muitas congregações continuam a reunir-se online exclusivamente.
“As mudanças têm sido desafiadoras em algum sentido”, disse Travis Hutchinson, ministro principal da Igreja de Cristo de Shelbourne Street em Victoria, Colúmbia Britânica, “mas também temos notado um aumento de membros dispostos a contribuir em oração, bênção, pensamentos de comunhão e devocionais diários”. Muitas pessoas que estavam nervosas por se levantarem à frente da congregação não estão agora tão nervosas por poderem gravar e editar algo”.
“Ao permitir que o Espírito Santo trabalhe em mim, ele me lembra que é vento, água e fogo”, disse o ministro. “Estes elementos não batem e não se enfurecem contra os obstáculos que encontram. Em vez disso, eles movem-se, adaptam-se e encontram novos caminhos”.