LISBOA, Portugal — “A igreja é como um autocarro”, disse Diana Neves. “As pessoas entram; as pessoas saem. Não sei dizer quantas vezes tive que dizer adeus”.
Ela estava a descrever a pequena Igreja de Cristo na qual serve, a Igreja de Cristo Lisboa, na capital mais ocidental da Europa continental.
As despedidas são, na sua maioria, felizes. A congregação tem em média 40 a 60 almas na maioria dos domingos, talvez 100 ou mais na Páscoa e no Natal, mas é uma comunhão temporária.
Os imigrantes de África encontram um lar breve aqui, antes de se mudarem para outras partes da União Europeia para procurar emprego. Os estudantes americanos em missões de verão estão aqui por apenas algumas semanas. Os missionários cultuam aqui e aprendem a língua antes de irem para nações de língua portuguesa, como Angola e Moçambique. Mais os turistas.
“Temos muitas pessoas a entrar pelas nossas portas”, disse Diana, que ajuda a coordenar o ministério dos jovens da igreja enquanto cria cinco filhos— quatro deles são adolescentes — e termina um curso de psicologia. O seu marido, Ricardo, é o ministro vocacionado para a igreja.
Quando um visitante vem à igreja, “não queremos que essa pessoa deixe a igreja sem um contacto”, disse Diana, “sem combinar um encontro”.
Isto, claro, foi antes do COVID-19. À medida que a pandemia se espalhou pela Europa, atingindo de forma especialmente dura a vizinha Espanha, Portugal entrou em confinamento. De repente, não havia nada para planear. A igreja “como um autocarro” estava num impasse.
A nação de 10,3 milhões de pessoas tem servido como local de encontro a curto prazo para executivos de negócios, estudantes internacionais e artistas de hip-hop e tem uma rede de ex-alunos em todo o mundo.
“Eles encontram-se no rés-do-chão de um edifício modesto na capital de Portugal”, disse Nathan Holland, um missionário em Angola, país de língua portuguesa, “mas eles têm uma presença espiritual que se estende pelos continentes”.
As Origens da Igreja em Lisboa
Antes do confinamento, falei com a Diana na icónica pastelaria de Lisboa, “Pastéis de Belém”, que serve o pastel de nata original e já conta com 183 anos de existência.
A pastelaria feita de azulejos de cor azul e branca nasceu a partir de um outro “confinamento” de carácter governamental— após a Revolução Liberal de 1820. Ordens religiosas, como os Jesuítas, foram expulsas, e o governo apreendeu os seus conventos e mosteiros. Para sobreviver, um antigo trabalhador de um dos mosteiros vendeu produtos de padaria de uma loja no bairro de Belém, na zona ocidental de Lisboa.
Dois séculos depois, com chávenas de café e um prato de pastéis de nata com o nome do restaurante, Diana conta como encontrou pela primeira vez a Igreja de Cristo.
A sua família, como quase 80 por cento do país, afirmava o catolicismo como a sua fé. Ela, os seus três irmãos e a sua irmã foram batizados quando eram crianças.
Depois, Scott Bulmer, um missionário da Igreja de Cristo Oakcrest, na cidade de Oklahoma, mudou-se para perto da sua tia, Manuela. Mais tarde, o seu irmão João Nunes começou a estudar a Bíblia com Scott Bulmer e a sua família começou a frequentar a Igreja de Cristo.
Diana estudou a Bíblia com Jennifer Silvestri, filha dos missionários Paul e Rosanna Silvestri. Aos 13 anos, ela foi batizada — novamente.
“Desde então, eu comecei a ir sempre aos grupos de jovens”, disse ela, “e a servir a igreja da maneira que podia”.
Aos 16 anos, ela arranjou um emprego num restaurante e começou a convidar os seus colegas de trabalho para os jogos de futebol de sábado da igreja. O seu futuro marido, Ricardo, era um dos seus colegas de trabalho. Ele veio de origem católica mas não tinha hábito de ir a uma igreja. Contudo, “quando ele era criança, ele acreditou sempre em Deus”, disse Diana. “Ele lembra-se de orar a Deus”.
Ele começou a frequentar a Igreja de Cristo. Porém, ele não se conseguia comprometer. “A religião”, disse o Ricardo, “divide as pessoas”. Então, Diana disse-lhe que ela não podia namorar com alguém que não fosse cristão. Eles não se falaram durante um mês. Foi doloroso. Finalmente, vendo a sua convicção, Ricardo decidiu estudar a Bíblia.
“Percebi que a religião está centrada na vontade humana”, disse ele, “e quando aceitamos o amor de Deus, compreendemos que Deus deseja a paz nos nossos corações”. É tudo sobre a vida de Jesus. “Tornar-se cristão foi muito melhor do que ser religioso”.
Tornar-se cristão foi muito melhor do que ser religioso
Ricardo Neves Tweet
Uma liderança local
Os Silvestris e outros missionários regressaram aos seus próprios países. Os pregadores e líderes da igreja mudaram-se para o Brasil e África. A irmã de Diana Neves, Ana Isabel Carvalho, e o marido Paulo, mudaram-se para o Nebraska. Eles trabalham para o York College, que está associado com as Igrejas de Cristo. Os irmãos de Diana, Filipe, André e João, mudaram-se para Oklahoma e Texas.
Ricardo e Diana Neves
Ricardo e Diana Neves gradualmente assumiram papéis maiores na igreja onde servem, ao lado de outros cristãos, incluindo a filha dos Carvalho, Inês Vieira, o seu marido, Caio, e Valfredo e Soili Dias.
Eles aprenderam com os seus antecessores a abraçar, em vez de lamentar, a natureza transitória da igreja, disse Diana Neves. Eles fazem o seu melhor para abençoar as pessoas que encontram enquanto podem.
Uma Igreja que Serve
Chad Westerholm, um missionário noutra nação africana de língua portuguesa, Moçambique, cultuou com a igreja de Lisboa em 2003 enquanto ele e os seus colegas de equipa aprendiam a língua portuguesa.
“Parecia mais que era a igreja que nos servia”, disse ele, “em vez de sermos nós a servir a igreja”.
Westerholm visitou a igreja em 2018 e deu um relatório do trabalho em Moçambique. Os membros eram bastante diferentes, disse ele. Mas o espírito de hospitalidade permaneceu inalterado.
Em Portugal, “a maioria das igrejas protestantes tem uma forte presença brasileira ou africana”, disse Westerholm, “o que as torna menos eficazes para alcançar a população local”. Mas a Igreja de Cristo “parece ter mais um espírito português do que costumava ter, o que eu acho que é uma coisa positiva”.
Entre os que eles abençoaram estão membros de uma equipa missionária enviada pelas Igrejas de Cristo para Angola, uma antiga colónia portuguesa.
“A congregação de Lisboa possui a identidade de ser um lugar que acolhe aqueles que precisam de um lar”, disse Katie Reese, que serve na equipa missionária de Angola juntamente com o seu marido, Danny.
Em 2005, uma oportunidade de visitar Angola não se concretizou, e os Reeses decidiram — à última da hora, com um orçamento apertado — viajar para Portugal para algumas semanas de formação linguística.
Os membros da Igreja de Cristo Lisboa oram pela equipa missionária de Angola antes dos seus membros, que estudaram português em Lisboa, se mudarem para a nação africana em 2011.
“Chegámos ao aeroporto de Lisboa na sexta-feira, sem falar uma palavra em português, sem conhecer ninguém, sem lugar para ficar, apenas uma tenda de mochila nas nossas malas”, disse Katie. Eles encontraram a morada da igreja e os membros da igreja encontraram um lugar para os Reeses ficarem.
“Nunca tínhamos conhecido nenhuma destas pessoas antes, mas elas receberam-nos de braços abertos”, disse Katie Reese. “Durante as nossas quatro semanas, fomos convidados para várias reuniões nas casas dos membros. Jogámos futebol com eles. Eu até fui a uma festa de casamento”.
Robert e Teague Meyer, que fazem parte da equipa missionária de Angola, estudaram português no Bairro de Loures, entre 2009 e 2011, dando uma pausa também para adotar os seus dois filhos da Etiópia.
“A hospitalidade e um espírito generoso são parte integrante do ADN da igreja em Lisboa”, disse Robert Meyer. “Cada membro deu-nos as boas-vindas e sofreu com o nosso péssimo português”. Eles encorajaram-nos a pregar e ensinar, mesmo quando estávamos colados às nossas notas e a pronunciar mal as palavras”.
Lukeny de Almeida, natural de Angola, serviu numa equipa de ministros na igreja no início dos anos 2000.
“Foi na Igreja de Cristo Lisboa que aconteceu a maior parte do meu crescimento espiritual”, disse Lukeny, que vive agora na capital de Angola, Luanda. “Por esta razão não pude esquecer os grandes e agradáveis momentos que vivi enquanto lá estive”.
Foi na Igreja de Cristo Lisboa que aconteceu a maior parte do meu crescimento espiritual
Lukeny de Almeida Tweet
A Igreja de Cristo Lisboa
Os membros da Igreja de Cristo Lisboa reúnem-se para uma fotografia antes da pandemia, mantendo-os em casa durante 12 semanas. A Igreja retomou as suas reuniões presenciais em Junho de 2021.
“A nossa paixão é a transformação”
Os portugueses, afinal, são um campo de missão, disse ele. Embora tendam a ser mais observadores religiosos do que outros europeus, a maioria não frequenta o culto regularmente, de acordo com o Pew Research Center.
Alcançar os nativos portugueses e todos os que vivem em Lisboa, uma cidade de meio milhão de almas, pode ser avassalador, disse Diana Neves. Ela e o seu marido já sofreram esgotamento nervoso. Eles começaram a participar num ministério internacional que fornece aconselhamento e apoio aos casamentos em crise.
Ver a mudança real na vida daqueles que eles orientaram revigorou-os. Antes do confinamento devido ao COVID 19, eles assumiram a supervisão do grupo juvenil da igreja.
“A nossa paixão é a transformação”, disse ela. “Somos absolutamente apaixonados por vermos vidas a serem transformadas, e Deus abençoou-nos de tantas maneiras para ver essa transformação”.
Independentemente de como a igreja ,“como um autocarro”, muda à medida que as suas portas reabrem, disse ela, os seus membros continuarão a partilhar a hospitalidade e o amor transformador de Deus — com quem quer que venha, por muito tempo que fique.